Do esvaziamento do poder real
Em uma palestra que proferi meses atrás, um participante me perguntou: “não é estranho, em pleno séc. XXI, na era da informática vocês ficarem falando de monarquia, imperador, rei?”.
A compreensão que se tem do significado dos vocábulos poder e autoridade é hoje uma emaranhado de distorções acerca da própria concepção da bondade. A sociedade moderna, essa tal “da era da informática”, é uma geração de pessoas voltadas absolutamente à busca do prazer, da aprovação, da satisfação de vontades e da busca da alegria, conjunto de sensações momentâneas que, em pessoas incapazes de à semelhança do Criador avaliarem corretamente o fruto de sua obra “[…]e viu Deus que era bom”, findam por dar novo significado a um termo já muito bem definido e registrado nos corações e nos dicionários: Bondade: qualidade de quem tem alma nobre e generosa. Em Israel, o povo que não tinha um rei deste mundo mas sim o Espírito que os guiou pelo deserto, incapazes de diferenciar o mal do bem e o efêmero do perene, clamaram ao profeta que ungisse um dentre os seus para que os liderasse em batalha, e assim à semelhança dos outros povos tivessem alguém que andasse à frente de seu exército. Como resposta, Aquele que conhece todas as coisas ordenou ao profeta “atenda a tudo o que o povo está lhe pedindo; não foi a você que rejeitaram; foi a mim que rejeitaram como rei” (I Sm 8:7). Esse é o episódio histórico que anuncia como em espelho a divinização da Democracia em nossos tempos. Um povo que, não reconhecendo a Bondade se lança na busca pelo que é bom. Um dos grandes homens brasileiros que escreveu sobre Conservadorismo, Manuel Alves Branco, chamado por João Camilo de “um liberal de espírito conservador”, disse:
Outros grandes conservadores, percebendo que os brasileiros seguiam à sombra dos hebreus dispensando um líder Eleito em busca de um por eles mesmos elegido, registraram em 1848:
Essa lucidez de enxergar o líder como Eleito e no ato de governar o exercício do Poder, é a perspicácia de entender que “reinar não é governar” e que, um povo precisa de governo mas também de liderança. O Parlamento, que nasceu para desempenhar a função de ouvir o povo e o representar diante dos governantes, hoje se transformou no braço que assenta a pedra, a mão que segura a pena e o pulso que maneja a espada. A Era das Leis é a usurpação do Espírito pela letra, a ideia de que somos governados por um contrato [social] e que, se está escrito, é. Não é! A comunidade brasileira sente falta de um líder mesmo tendo uma legião de representantes; esse vazio político-representativo foi a mola que a impulsionou ir às ruas clamar por um retorno àquilo que lhe foi tirado sem que lhes deixassem perceber: o senso de percepção da realidade, a capacidade de olhar para algo e ver que é bom. O brasileiro quer seu espírito de volta ao corpo; o amor pela terra vermelha que o batizou; o apego à cultura popular que misturou a muitas mãos. Nos últimos dias tenho visto o Presidente da República – cargo já tão esvaziado de poder por sua própria natureza democratizante – ser esvaziado da autoridade de fazer, e isso por parte deste Parlamento brasileiro que acabamos de definir acima, gente que transforma a pena em ferramenta de execução, legislação e julgamento. A realidade que temos vivido é preocupante e é preciso lucidez e grandeza de espírito por parte de nossos governantes. Que o Criador tenha misericórdia do Brasil e, assim como não destruiu o seu povo quando este o rejeitou, antes o abençoou escolhendo dentre a multidão um “sem igual entre os israelitas; os mais altos batiam nos seus ombros”… que o Brasil sobreviva à tentativa constante de esvaziamento da Presidência e se destaque dentre as nações que o cerca. |