Tenha preconceitos!

“Estamos receosos de colocar homens para viver e negociar cada um pelo seu próprio estoque privado da razão, porque nós suspeitamos que este estoque em cada homem é pequeno, e que os indivíduos fariam melhor em se valer do banco geral das nações e das eras.” – Edmund Burke

Em seu clássico “Reflexões sobre a revolução na França”, Burke faz uma exaltação essencialmente conservadora, em que conclama os cidadãos franceses a olharem para o povo da Grã-Betanha e atentarem que lá, as pessoas não viviam cada um de acordo com os princípios de sua própria cabeça, mas sim seguiam todos um princípio uno, pregado pela liderança moral do povo representado no poder político conservador. O objetivo de Burke era abrir os olhos de seu interlocutor e, assim, ajudá-lo a entender que se os franceses continuassem se guiando, cada um por suas próprias ideias, a França jamais conheceria a tranquilidade.

No Brasil, nos últimos meses tem se falado bastante sobre o conservadorismo popular brasileiro. Dizem alguns que o povo brasileiro “é conservador por natureza”, quando o que temos na verdade é um povo dotado de uma vontade frágil, que não conseguiu gerar um governo conservador em décadas, antes abandonou toda a defesa de sua profissão de fé – parafraseando Mário Ferreira dos Santos – e abraçou de corpo e alma o pensamento progressista em todas as esferas da vida em sociedade. O conservadorismo natural brasileiro não foi capaz sequer de manter nossos filhos longe da imoralidade, muito pelo contrário, hoje a realidade nos bairros pobres de norte a sul do país é um lar onde os pais ouvem funk junto de seus filhos, que desde a mais tenra infância aprendem a consumir pornografia.

Conservadorismo nasceu de povos que, vendo as sociedades se organizarem em grandes centros urbanos, constataram que onde há densidade populacional há naturalmente a revolução dos costumes, e essa revolução quando se dá no aspecto moral geralmente é perniciosa. Assim, os conservadores lutaram, desde o início, para manter os bons costumes (obedecendo o provérbio de Salomão “Não removas os limites antigos que teus pais estabeleceram” – Pv 22:28). Porém, manter não é estagnar. Para manter é preciso lutar; é preciso se opor ao revolucionário; é preciso debater – e vencer! – o progressista.

Esse tal conservadorismo natural brasileiro, se algum dia existiu, fracassou. O Brasil viveu mais de três décadas, desde a redemocratização, sendo alimentado com socialismo no âmbito educacional, cultural, artístico e filosófico. Achar que vamos destruir toda essa base intelectual com senhorinhas inocentes e ditados populares é pedir por mais três décadas, agora porém de comunismo.

O brasileiro precisa aprender, consumir informação e se formar conservador. Nas palavras de Burke, o brasileiro precisa adquirir bons preconceitos, pois:

“[…]o preconceito é de aplicação imediata em situação de emergência; ele antecipadamente conduz a mente em um curso constante de sabedoria e virtude, e não deixa que o homem hesite no momento da decisão por ceticismo, confusão e indecisão. O preconceito torna a virtude de um homem em seu hábito, e não em uma série de atos desconexos. Através de um preconceito justo, o seu dever se torna parte de sua natureza.”

Bebendo do conhecimento produzido por grandes homens como Burke, Chesterton, Tocqueville, Jordan Peterson, Olavo de Carvalho, Mário Ferreira dos Santos… iremos adquirir bons preconceitos e, assim, não hesitaremos quando desafiados formos a decidir sobre aborto, drogas, política externa, reforma educacional, educação sexual e tantos outros problemas sociais que nos desafiarão nos próximos anos.

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