A lama para o caos
Não dá pra descer mais baixo que isso. Sempre vem alguém pra lembrar que “dá pra piorar ainda mais” mas, na Imprensa brasileira, não dá. Explico.
Fazer jornalismo é comunicar a verdade. Enquanto os trabalhadores das diferentes profissões estão cuidando de seus afazeres, o jornalista está buscando a verdade com relação a temas alheios ao ofício de seus compatriotas. Quando o padeiro, o motorista, a secretária e o professor chegam em casa depois de um dia de trabalho, o jornalista traz o produto de seu suor e oferece informação quentinha, “veja aqui o que aconteceu enquanto você esteve fora”.
O jornalista não trabalha mais com a verdade, ele trabalha com a não-verdade para construir a sua verdade. Na linguagem do antigo Aurélio, o vocábulo – aposentado após a criação do termo fakenews – é mentira.
(men.ti.ra) s.f. afirmação de algo não verdadeiro para enganar ou iludir alguém.
Não há abstração a ser feita com relação a este conceito quando originário da informação. Não se trata de “chegando ao fundo do poço, insistem em cavar ainda mais”. O fundo do poço é metafórico, é a ideia do que há de pior. O que assistimos no Brasil não é o cavar mas o enlamear-se. É o prazer em, chegando ao fundo do poço, se deliciar com a terra revolvida no processo de cavar a [própria] cova.
A matéria da Folha de São Paulo, revirando o passado de membros da família da atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro, é o produto do trabalho de porcos que não buscam a informação mas apenas lidam com o pretérito para construir o presente, objetivando a manipulação do futuro. Ad hominem, não se trata de discutir o porte ou o tráfico de drogas, o roubo, o assassinato… trata-se de falar “a mulher do presidente vem de uma família com problemas” – lembrando que na semana anterior os especialistas comportamentais analisaram o caráter de Michelle baseados na cor da lingerie que ela usa.
Chegando na mentira, não é preciso ir mais fundo. E a imprensa não está indo mais fundo, ela parou. Parou neste poço de lama e convida o cidadão brasileiro a entrar no buraco e tomar parte neste “banho”.
“O que fazer?”. Muitas pessoas me fazem essa pergunta, diariamente. Sendo objetivo, para responder precisamos primeiro detectar o problema para então imaginar a solução. O problema é fácil, o cheiro pútrido da mentira o entrega. A solução? São duas. Uma para cada grupo que compõe a sociedade, a saber o consumidor e o fornecedor.
Quem é consumidor deste produto – e sim, a informação é um produto – tem a solução mais fácil, basta mudar de fornecedor. Quem é fornecedor tem a solução mais trabalhosa, em meio à crise da imprensa, trabalhar com mais afinco para, em meio ao caos, encontrar a verdade, e comunicá-la, seja qual for.
Se você é o padeiro, o motorista, a secretária ou o professor, você está trabalhando o dia inteiro para edificar uma nação. Se você é o jornalista, aqui fica o convite para fazer parte deste grupo de brasileiros que saem de casa todos os dias com uma missão em mente: construir um Brasil melhor.
Nas palavras do menor dos apóstolos:
“[…]deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros.” Ef 4:25