A Moça Esperando o Avião.
Gustav Klimt – Dame mit Fächer (1917).
Pela janela, lâminas de luz cortam o vidro negro… E num vago vagão de gente, nos encontramos displicentemente. Vultos soltos cortam o ouro do teu puro estar. Seus cabelos negros presos por uma presilha rosa; eles adornam seus óculos, molduras de teus olhos infinitos! Nas pernas, a calça bege dissolve-se na pele de neve, um sopro de luz esculpido na matéria, o crepúsculo da miséria.
Mas como flashes de uma foto, esse brilho passará. E assim como, um dia, você terá sido bela; um dia, esse sopro de tempo voará… Pobre janela, que é obrigada a presenciar a derrocada da beleza! Nessa cadeira de aeroporto, a morte mais verdadeira: a eterna morte do instante. Instantaneamente morre a moça e sua pose: uma poça d’água na cidade da mágoa; a fenda na emenda da alma.
E é nesse morrer que nasce o viver! Nesse pequeno exício surge o exercício do Eterno, fazendo durar para sempre a luz que paira sobre ti agora. Pois, antes que ela vá embora, meu peito saboreia o fulgor expelido pelo teu olhar, tocando a cor do teu terno suspirar. Teu feixe de luz se desfaz, mas sangra no sangue de minha alma, e assim ela se perpetua… Imortal? Não, Perpétua!