Na manhã de hoje, o Presidente Jair Bolsonaro conversou com os jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, prática que aliás se tornou rotineira em seu dia-a-dia. Rotineira também se tornou sua postura incisiva de não se posicionar de forma passiva ante a imprensa, nem mesmo reativa, antes ativa e propositiva. Nesse novo estilo de lidar com os jornalistas, Bolsonaro chegou hoje no “cercadinho” (apelido dado ao local onde os jornalistas o esperam, na guarita do Palácio) e, logo de início disse que iria ler algumas manchetes de grandes jornais brasileiros.

“Folha de São Paulo: Investimento empurra PIB, mas recuperação segue lenta. Estadão: PIB cresce e surpreende, mas retomada é lenta. O Globo: PIB reage, mas previsão para o ano ainda fica em 1%”.

A fala do presidente, em seu já conhecido tom sarcástico, deixou claro algo que tenho abordado no YouTube (Comunicação & Política) há mais de ano: o Cartel da Imprensa.

A imprensa brasileira não está divida entre empresas concorrentes. O mercado da informação no Brasil é composto por dezenas de veículos de comunicação – TV, Rádio, jornais impressos… – trabalhando continuamente em pleno acordo de objetivo, inclusive partilhando banco de dados e até mesmo pauta.

Sempre guardada no jornalismo como segredo de profissão, hoje a pauta é compartilhada. Sabido que o princípio de um projeto é o que ele tem de mais precioso, nem perderei tempo falando sobre o objetivo final da pauta: a matéria.

Quando um jornalista compartilha seu objetivo com um profissional de veículo “concorrente”, ele está compartilhando o segredo mais caro ao investigador, a saber o fruto da investigação. Claro que aqui há um pouco de poesia, um saudosismo do tempo em que o jornalista era alguém que saía em busca da verdade e, voltando à redação no fim do dia comunicava essa verdade ao grande público. Hoje não há mais busca da verdade e nem mesmo é preciso levantar o sagrado bumbum da cadeira. De dentro da redação cada jornalista terceiriza seu trabalho ao amigo Google e sua companheira, Dona Wikipedia. E seu objetivo não é descobrir a verdade, mas sim criar sua própria verdade.

Prejudicado mesmo fica o leitor. Não o leitor em potencial mas sim o leitor leitor. O tolo que ainda não entendeu que está comprando de um cartel e, desconhecendo que existem fornecedores não-cartelizados, acredita no “cartel ou nada”.

Os três maiores veículos de comunicação da mídia impressa brasileira elaboraram títulos absolutamente iguais. Atente para as vírgulas! Todos os três títulos destacados pelo presidente utilizam vírgula antes do “mas”. Nossa grámatica ensina que a vírgula é obrigatória quando a conjunção “mas” marca oração coordenada adversativa, indicando oposição. “PIB cresce, mas…”.

Todos os jornais utilizaram a mesma regra gramatical porque todos os jornais escreveram com o mesmo objetivo, direcionar o leitor ao adverso “é bom, mas é ruim”.

E assim, compartilhando do segredo da profissão, das regras gramaticais e da clientela desavisada, a grande imprensa brasileira caminha rumo ao momento próximo em que compartilhará também a mesma cova rasa, e nela o público a abandonará. Sem mas.

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