O futuro nas tripas

O homem sempre quis saber de onde vem e para onde vai. Diante de um problema sem solução prática como esse… restou o ocultismo! Aí surgiram os tipos mais malucos e até nefastos de métodos adivinhatórios: ver o futuro nas chamas do fogo, leitura das linhas da palma da mão, borra do café e até mesmo adivinhar o futuro por meio da observação das vísceras de um ser humano ofertado em sacrifício. Tal vilipêndio ainda recebeu um nome chique por parte dos estudiosos: antropomancia.

Pois bem, o brasileiro pode até não gostar de ler a ponto de procurar nas folhas do Houaiss (Aurélio, para os mais velhos) o significado deste estranho vocábulo. Mas qualquer pessoa que já pediu informação sobre um endereço nas ruas de qualquer cidade brasileira, sabe que a falta de conhecimento não impede o brasileiro de informar, com plena convicção, o caminho certo. O que me espanta hoje, com o advento das redes sociais, é a falta de vergonha do brasileiro em descartar os fatos patentes e ficar com a “informação” das vísceras.

O Ministério Público do Paraná autorizou que a Polícia Federal grampeasse um figurão do Primeiro Comando da Capital (PCC) – que nasceu como organização político-criminal atendendo pelo nome de Partido do Crime (PC ), nos anos 90. O grampeado foi Alexsandro Pereira, vulgo Elias, que tem até função na organização criminosa: tesoureiro nacional.

Vamos a eles, os fatos.

O grampo legal captou um diálogo que já é de todos conhecido, nesse diálogo o vagabundo reclama de Sérgio Moro, diz que ele está atrapalhando o “trabalho” do PCC e que nos tempos do PT não era assim, nos tempos do PT havia diálogo entre o poder público e poder paralelo… Espantoso? Sim. Novidade? Não.

Ao menos não era pra ser novidade, uma vez que há ao menos uma meia-dúzia de livros citando essa verdade em papel e tinta.

Mas chega de fatos que de fatos o noticiário do dia já nos encheu, vamos à visão que o tupinambá-médio está emitindo nas redes.

“Ouvi só agora a conversa do PCC sobre PT e Moro. Não sei ao certo, mas tem cara de fake.” – Arthur do Val, 2º deputado estadual mais votado de São Paulo

“Tem cara de fake”. O antropomancista com 3G e uma conta no Twitter não liga se há provas. Não liga se há autorização do Ministério Público e se o grampo foi executado pela Polícia Federal. A realidade é enganosa e, para saber A Verdade é preciso sentir. É preciso saber mas não com o cérebro e sim com as tripas. Enquanto “não rolar uma química”, “não bater um feeling” ou “não arrepiar os pelinhos do dedão do pé”… nada de certeza.

Tudo bem que o brasileiro não gosta de lidar com a dura realidade, afinal cobrar sobriedade de um povo que precisa vender o almoço pra comprar a janta é muita maldade mas, no campo do saber, precisamos entender que, das tripas só vem merda.

Se o áudio for falso, que responda por isso a Polícia Federal, o Ministério Público e o tesoureiro nacional, mas poupe o interlocutor de uma negativa diante dos fatos baseado apenas no “parece fake”. Se passarmos de incrédulos que só acreditam vendo, para incrédulos que não acreditam nem mesmo tocando, a tarefa de reerguer esse país das cinzas pós-PT será não hercúlea mas sim cabulosa.

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