O Pecado (Die Sünde)
O atual conhecimento do cidadão médio do Brasil acerca das verdades Bíblicas é pífio – na verdade creio que até mesmo a palavra nulo poderia ser aplicada aqui, contudo, no intuito de não demonizar demasiadamente nosso cenário, preferi não utilizá-la. Se você perguntar para um transeunte qualquer o que é evangelho, acabará por escutar as (prováveis) maiores idiossincrasias de sua vida. E olha que já ouvimos tantas de “altíssimo” nível aqui na República dos Bananas.
Tendo em vista então este contexto, me dei a missão de tentar elucidar ao menos os pontos mais básicos do Evangelho, ao máximo de pessoas possíveis. E creio que o formato escrito (artigos principalmente, pois livros no Brasil tem menor aderência) seja o mais adequado para transmissão do conhecimento. E com este objetivo começarei aqui uma série de três artigos, nos quais farei uma síntese da mensagem evangélica que esta presente na Bíblia.
Entendamos então qual a mensagem do Evangelho.
Em primeiro lugar, é necessário saber que a palavra no grego, traduzida como Evangelho, tem o significado de “boas novas” no idioma natal. Que era utilizada quando o exército ganhava a guerra, e o mensageiro voltava trazendo as boas novas.
Entendido então o sentido original no qual a palavra foi escrita (ao menos superficialmente), podemos prosseguir para um conceito mais detalhado, que seria: nós estávamos mortos em nossos delitos, completamente submersos no lamaçal de nosso pecados, e corrompidos pelo Pecado Original herdado geneticamente de nosso pai Adão. Contudo o dia profetizado, do nascimento de Nosso Salvador, finalmente vem. Ele – Jesus Cristo – nascido de uma virgem, não tem o Pecado Original em seu “DNA” pois seu Pai é o próprio Deus. Aos 30 anos de idade, seu ministério começa de forma pública, sendo batizado por João Batista. Então Cristo começa a operar muitos milagres, gerar grande comoção social e mudar muitas das leis antigas. Eliminando algumas, e deixando outras mais difíceis. Porém para que Ele nos libertasse completamente da senhoria do Pecado, sangue necessariamente deveria ser derramado, o Seu sangue. E por ter ofendido em muito os antigos homens da lei, eles o condenaram à morte por cruz. Apesar de todas as dores físicas sofridas por Nosso Senhor, a maior delas foi receber sobre si o cálice da Ira de Deus, que tinha sabor mais amargo que o vinagre. Contudo, com esta atitude de Amor Verdadeiro Ele nos libertou do Pecado e nos tirou do Inferno! E além disso, imputou em nós sua nova natureza através do Espírito Santo. E também prometeu voltar para banquetear conosco, afim de celebrar sua vitória sobre a morte e redimir toda a terra.
Esta é a boa nova do Evangelho. Uma mensagem de Amor, Fé e Esperança. Nós, seres imundos e desprezíveis, fomos salvos pelo Ser mais Supremo de toda a existência, que morreu por nós, ressuscitou no terceiro dia e voltará para nos levar ao céu, e cear conosco.
Caros leitores, esta seria uma explanação brevíssima do Evangelho. Mas não se preocupem, falaremos mais detalhadamente sobre todos aqueles pontos nos artigos ulteriores. Que serão divididos da seguinte forma:
- O Pecado: neste artigo falaremos sobre a origem do pecado, sua consequências nos Homens e na natureza.
- Jesus Cristo: no segundo discorreremos acerca do Homem que nos libertou desse abominável estado. Falaremos de seu nascimento, vida, morte e ressureição.
- O futuro: no último será abordado o tema da volta de nosso Salvador. Transcorreremos sobre a vinda Dele, o banquete, nossa vida eterna e como a visão correta do futuro impacta nosso presente.
Esclarecidos então este pontos iniciais, podemos – finalmente – começar a conversar sobre o primeiro tópico deste nosso breve estudo.
Senhores, para entendermos a questão do Pecado é necessário que conheçamos sua origem. Tenho certeza que a maioria dos que me leem neste momento, conhecem a história do Éden e do pecado cometido por Adão e Eva. Entretanto é preciso, e urgente, reafirmamos essa verdade Bíblica hoje. Os dois primeiros seres humanos, foram criados à imagem e semelhança do Criador, o que nos diz que eles eram parecidos, mas não iguais. Ambos foram inseridos em um “Jardim de Delícias”, no qual desfrutavam do Bom e do Melhor, e da companhia plena do Ser mais Ser da existência. Todavia, devido a influência de Satanás (Anjo expulso dos céus por querer tomar o lugar de Deus), Eva convence Adão – representante da humanidade – a desobedecer à Deus. Com isso, toda a civilização humana estava agora condenada a viver como a água, incapaz de escolher subir a cachoeira, assim também, nós agora somos impelidos, limitados, pelo Pecado de escolher o Bem. Todo Homem agora nasce com esta carga genética já presente dentro de si. Com isso, até os recém-nascidos tem o Pecado Original e precisam ser alcançados pela Graça.
Obviamente as consequências disso são exorbitantes. Mas gostaria de mostrar-lhes um texto Bíblico, o qual creio eu irá expandir e solidificar esta imagem em nossas cabeças. O trecho se encontra na carta do Apóstolo Paulo aos irmãos da Igreja de Roma, no capítulo de número três, versos dez ao vinte.
“Como está escrito:
Não há um justo, nem um sequer.
Não há ninguém que entenda;
Não há ninguém que busque a Deus.
Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis.
Não há quem faça o bem, não há nem um só.
A sua garganta é um sepulcro aberto;
Com as suas línguas tratam enganosamente;
Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios;
Cuja boca está cheia de maldição e amargura.
Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.
Em seus caminhos há destruição e miséria;
E não conheceram o caminho da paz.
Não há temor de Deus diante de seus olhos.
Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.
Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.”
Aqui o Apóstolo nos diz que TODOS os Homens estão na mesma posição: a última. Somos seres incapazes de produzir qualquer bem, como o próprio Paulo relata. Ainda no mesmo capítulo, porém um pouco mais à frente, ele complementa nos versículos vinte e dois ao vinte e oito.
“Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença.
Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.
Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;
Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.
Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.
Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.”
Os textos de Paulo são extremamente enfáticos e até invectivos eu diria. Tenho certeza que soaram ofensivos e agressivos para muitos de sua época. A descrição “Poeriana” que ele nos apresenta, assusta, envergonha e pode até mesmo irritar-nos. Todas essas emoções são naturais, já que aqui este grande Herói da Igreja expõe nosso lado mais pútrido e íntimo para que todos vejam. Acredito que exista um poema que descreva com excelência nosso estado pós-queda, que é: Uma carniça – Charles Baudelaire.
Para fins didáticos citarei apenas um trecho da obra para os senhores:
“As pernas para cima, qual mulher lasciva.
A transpirara miasmas e humores.
Eis que as abria desleixada e repulsiva.
O ventre prenhe de livores.
Ardia o sol naquela pútrida torpeza.
Como a cozê-la em rubra pira
E para o cêntuplo volver à Natureza
Tudo o que ali ela reunira.
E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça
Como uma flor a se entreabrir.
O fedor era tal que sobre a relva escassa
Chegaste quase a sucumbir.
Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço.
Dali saíam negros bandos
De larvas, a escorrer como um líquido grosso
Por entre esses trapos nefandos.
E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga.
Que esguichava a borbulhar.
Como se o corpo, a estremecer de forma vaga.
Vivesse a se multiplicar.
E esse mundo emitia uma bulha esquisita.
Como vento ou água corrente.
Ou grãos que em rítmica cadência alguém agita
E à joeira deixa novamente.
As formas fluíam como um sonho além da vista.
Um frouxo esboço em agonia.
Sobre a tela esquecida, e que conclui o artista
Apenas de memória um dia.
Por trás das rochas, irrequieta, uma cadela
Em nós fixava o olho zangado
Aguardando o momento de reaver àquela
Carniça abjeta o seu bocado.”
Aqui neste texto temos uma descrição do estado mais nojento e asqueroso de uma carniça. Em alguns momentos deste poema meu estômago chega a embrulhar. Sendo esta a nossa exata imagem sem a obra transformadora e redentora do Evangelho!
Uma coisa como a que vimos acima, não poderá produzir nada de Bom. Uma carniça não poderá ter um casamento bom, será incapaz de construir uma sociedade boa e jamais conseguirá constituir uma nação ou país saudável.
Só há uma solução pro Brasil: Evangelho!
Pois somente ele destrói o verdadeiro problema: o Pecado!
E quanto mais entendo meu estado de nojeira, mais eu entendo o Amor sacrificial de Cristo, a Bondade, Misericórdia e Graça infinitas de Deus, e o tamanho da obra transformadora do Espírito Santo em mim!
Esse é o primeiro passo para a conversão: entendimento do seu estado de miséria completa e absoluta. Que assim como Agostinho nos diz, vem através da iluminação do Espírito Santo em nossa parte imaterial, lançando luz em nossas carniças escondidas. Foi assim com Moisés, Isaías, Paulo e tantos outros. Enquanto perseverar em nossa mente a ideia de que algo de Bom pode ser produzidos por nós, não teremos compreendido plenamente nosso estado de miserabilidade.
“Mas Davi, e as pessoas não cristãs (que não passaram pela transformação do Espírito Santo) e que fazem coisas boas? Como Gandhi, o próprio Baudelaire citado no texto e tantos outros.”
Para essa pergunta tenho uma resposta com duas palavras: Graça Comum.
Este conceito desenvolvido por teólogos vai dizer que: Deus por misericórdia concede partículas de graça, para que os Homens sejam dotados de talentos e dons belos, para assim tornar a vida na terra tolerável.
A Bondade de nosso Deus é tamanha, que ele distribui misericordiosamente vislumbres de graça na raça humana, para que possamos ter uma vida vivível aqui na terra. Graças a isso, pessoas não transformadas pelo Espírito, podem fazer uso destes talentos dados pelo Criador, para produzirem uma brisa fresca num verão insuportável. Lembrando que Deus irá pedir contas de cada um dos dons que Ele distribui em graça comum.
Bento de Núrsia – grande homem da história da Igreja – disse uma vez que: “Antes de tudo, quando realizar algo bom, pede a Deus com oração insistente que seja plenamente realizado por Ele.” Aqui vemos claramente que este grande monge da Igreja entendeu que, muitas vezes, sabemos o que é Bom, mas somos incapazes de fazê-lo sem corromper o mesmo. Por isso oremos insistentemente para que seja feito plenamente por Deus.
Contudo, a Queda não afetou somente os Homens, mas também contaminou a própria criação. Antes, coisas como: doenças, dores, desastres naturais e essa guerra do Homem versus a Natureza, simplesmente não existia. Tudo estava em plena e completa harmonia!
Hoje há um desequilíbrio. A espécie humana suga e explora a natureza de forma imprudente, e do outro lado o cosmos se “vinga”. Assim como Cristo controlou a tempestade no barco, da mesma forma teremos governo sobre a criação, de maneira similar à Adão e Eva. Para podermos cuidar e zelar dela.
Dado o que foi exposto aqui, entendo a tendência de alguns à pensarem que estou errado, pois a Bíblia diz que o próprio Deus olhou para seu trabalho e disse que era muito bom. Sendo assim, como algo classificado dessa maneira, por Nosso Senhor, poderia ser uma carniça? A questão é que: a obra criacional Dele continua tendo a mesma qualidade do princípio, todavia, Deus é transcendente ao tempo, por isso Ele consegue ver a obra finalizada que será esplendorosa. Mas mesmo hoje, com a criação ainda no aguardo da Eternidade, podemos ver o quanto ela é bela; basta olharmos os montes, o céu, o mar, os animais e até mesmo as coisas belas produzidas pelos Homens através da Graça Comum.
A conclusão correta que devemos chegar é: Deus criou todas as coisas perfeitas, entretanto o Pecado as corrompeu, mas, devido à Graça do Senhor podemos ainda contemplar centelhas de sua Glória nesse mundo caído – que em breve será restaurado!
Leitores queridos, encerramos por aqui (parcialmente) nossa caminhada mental. Espero ter esclarecido os pontos aos quais me propus iluminar para vós outros. No próximo artigo veremos qual a solução para essa carniça. Como foi que Cristo a trouxe de volta a vida e a limpou de seus vermes, doenças e feridas.
Até a próxima e fiquem com Deus.