Ó Sombra fútil…
Edward Hopper – Automat (1927).
“Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta…” Diz o poeta1.
Sombras que perpassam entre si,
tornando-se uma multidão de nada;
e suas margens que desaparecem
entre as negras bordas do vazio…
“Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta…” Diz o poeta.
Sombras que se movem sem saber
pra onde vão e de onde vieram,
sempre com pressa, sempre correndo;
Pra onde corres? Por que corres?
“Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta…” Diz o poeta.
Sombra, do que tens tanto medo?
Quem te persegues? Quem é que
te afliges? Quem é que bate o
chicote que estrala em tuas costas?
“Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta…” Diz o poeta.
Ou será que corres tão depressa
por pura sede? Mas sede de quê?
O que desejas tanto? O que tu
buscas tanto que morres para ter?
Ó sombra fútil chamada gente…
-
- Poema “Se te Queres”, de Álvaro de Campos, alter ego de Fernando Pessoa.